Campinas: posse de Demétrio Vilagra é nesta terça (23)

Campinas: posse de Demétrio Vilagra é nesta terça (23)

Presidente do PT-SP declara apoio ao petista, que foi envolvido nas denúncias de irregularidades em contratos públicos sem nenhuma prova.

Por Cecilia Mantovan e Cezar Xavier, Portal Linha Direta - Sábado, 20 de agosto de 2011

O vice-prefeito Demétrio Vilagra (PT) assume nesta terça-feira (23) como prefeito de Campinas. A cerimônia será realizada no Plenário da Câmara Municipal, às 9 horas.

Demétrio tem total apoio do PT-SP, diz Edinho

A direção estadual do Partido dos Trabalhadores, na pessoa do seu presidente, deputado estadual Edinho Silva, empenhou total apoio e solidariedade ao PT de Campinas e ao petista Demétrio Vilagra, que deve assumir a Prefeitura da cidade, após a cassação do mandato do prefeito Hélio de Oliveira Santos (PDT). "O PT de Campinas e o Demétrio têm total apoio da direção estadual do nosso partido", declara Edinho.

O prefeito em exercício de Campinas, Demétrio Vilagra (PT), chegou na manhã desta segunda-feira (22) no Paço Municipal para iniciar os trabalhos no primeiro dia útil depois da cassação do mandato do então prefeito Hélio de Oliveira Santos (PDT) na madrugada de sábado (20). O PT está mobilizando suas lideranças e militância para prestigiar a posse do petista.

Para Edinho, a importância da maior cidade do interior paulista demanda uma preocupação com a restauração da tranqüilidade política na administração. "Neste momento, não pode restar nenhuma dúvida do nosso esforço para restaurar a tranquilidade política na cidade para, em conjunto com os partidos aliados, concluir as tarefas e o programa do mandato eleito em 2008", disse ele, que confirmou participação na cerimônia de posse.

A direção do PT estadual, segundo Edinho, “está totalmente solidária ao companheiro Demétrio”. “Campinas é um dos municípios mais importantes do estado de São Paulo e, sob o comando do PT, vai continuar a trilhar o caminho do desenvolvimento e da distribuição de renda e justiça", afirmou o dirigente petista.

Demétrio divulgou uma carta convocando o funcionalismo público a “trabalhar normalmente pela cidade” e pediu “que todos mantenham a calma e exerçam suas funções de maneira competente em prol de nosso município”. Edinho também expressa apoio ao esforço pela normalidade administrativa de Campinas, ao enfatizar que "nada muda na relação da administração municipal com o Governo Dilma, que continuará investindo na cidade e contribuindo para o desenvolvimento de toda região."

Entenda o caso

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) investiga as denúncias há um ano. São 11 prefeituras e três governos estaduais: São Paulo, Minas e Tocantins. Em Campinas, as denúncias são sobre o possível envolvimento de empresários e dirigentes públicos em contratos da Sanasa, em torno de R$ 224 milhões.

Segundo relatório do Ministério Público há fraudes em licitações que seriam comandadas pela primeira-dama de Campinas, Rosely Nassim Jorge Santos. Segundo o relatório, em conversa telefônica, o empresário Gregório Wanderley Cerveira, da Hydrax, e o ex-presidente da Sanasa, Luiz Augusto Castrillon de Aquino, confirmaram o esquema.

Aquino fez acordo de delação premiada e diversas pessoas mencionadas por ele – a exceção da primeira-dama, que tinha um habeas-corpus preventivo - foram presas e depois soltas por habeas-corpus ou revogação de prisão.

O vice-prefeito Demetrio Vilagra foi julgado e condenado por diversos meios de comunicação antes mesmo de sua denúncia ter sido aceita pela Justiça. O pesadelo começou em 20 de maio de 2011, quando o vice-prefeito estava na Espanha, em férias com a família - viagem que havia sido comprada há meses em diversas parcelas. Mesmo com o comunicado oficial de suas férias – documentadas pela Ceasa e divulgadas amplamente na semana anterior em jornais da cidade e região - a Justiça de Campinas decretou a prisão preventiva do vice-prefeito a pedido do MP e o considerou foragido.

“Foi a primeira vez que sai do país, havia comprado a viagem há meses. A imprensa divulgou, a Câmara, o Ministério Público e a Polícia Federal também sabiam. Mesmo assim, fui considerado foragido. Apesar de eu ter avisado via twitter que estava voltando e confirmado isso por meu advogado – e de fato voltei na data anunciada -, cartazes com fotos minhas foram colados nos aeroportos. Foi muito constrangimento. Já nesse início não tive direito de defesa”, explica Demétrio.

No dia em que foram expedidos os mandatos de prisão, a Polícia encontrou R$ 60 mil na casa do vice-prefeito e a mídia levantou suspeitas sobre esses valores, também sem apontar porque eles seriam irregulares. “Deixo dinheiro em casa desde a época que fui tesoureiro do sindicato, durante a ditadura militar, e fui perseguido, preso e tive minha conta bancária bloqueada. Por isso passei a deixar sempre uma quantia de dinheiro em casa para casos de urgência e tenho receitas para isso”, explica.

Um dos empresários ouvidos pelo MP fez outra suposta denúncia contra Demétrio, afirmando que teria dado R$ 20 mil para que Demétrio pagasse despesas eleitorais “e duas garrafas de vinho” ao vice-prefeito. “Tudo o que recebi para campanha foi declarado e tenho evolução patrimonial condizente com meus rendimentos. A tentativa de envolver meu nome é no mínimo estranha, ainda mais se considerando que não há nenhuma prova ou evidência mostrada contra mim, apenas gente suspeita falando do meu nome com interesses próprios”, contesta..

No mesmo dia em que chegou ao Brasil ele foi preso, fez questão de prestar depoimento e teve a prisão revogada pelo juiz responsável pelo caso. Demétrio também entregou voluntariamente sua declaração de bens assim que retornou a Campinas.

Demétrio divulga nota oficial

A assessoria de imprensa do Demétrio Vilagra (PT) divulgou uma nota oficial com a posição do petista sobre a cassação do prefeito Helio, na manhã deste sábado (20) e a necessidade do projeto de governo seguir em Campinas:

Bom dia a todos,

Não posso nem vou, neste momento, falar como prefeito – algo que só farei quando for empossado pela egrégia Câmara Municipal. Como vice-prefeito, porém, reitero que estou preparado para assumir o cargo de prefeito em prol da cidade que precisa voltar a caminhar a passos largos rumo ao desenvolvimento econômico e social.

Entendo que este momento deva ser canalizado em uma ação em prol do município, para que Campinas saia fortalecida da crise e volte a crescer, de maneira legal e totalmente transparente.

Reitero também o compromisso que tenho com os eleitores e com o plano de metas que elegeu a atual gestão em uma coligação multipartidária. Tenho um pacto com Campinas e com as metas para que a cidade cresça. Não compactuo com o erro.

O fim da estagnação causada pela crise só será possível, no entanto, se todos agirem com racionalidade política e união. Conclamo, então, todos os partidos, vereadores, empresários, mídia e a sociedade como um todo para que este seja o momento final da crise e para que cresçamos com ela.

Demétrio Vilagra

Demétrio Vilagra foi um dos fundadores do PT

Demétrio Vilagra é do Mato Grosso do Sul, formado em administração de empresas e começou na política como assessor parlamentar. A trajetória política de Vilagra está atrelada ao sindicalismo. Em 1971, ele ingressou na Replan, em Paulínia, como técnico de utilidades e participou da formação de sindicatos. Também foi um dos fundadores do PT, na década de 80. Na década de 90, foi assessor parlamentar do vereador petista Luciano Zica.

A partir do ano 2000, a convite de Antônio da Costa Santos, o Toninho, assumiu a gerência financeira da Central de Abastecimentos (Ceasa), cargo que ocupou até 2004. No ano seguinte, com Hélio já na prefeitura, Vilagra retornou ao órgão como coordenador do banco de alimentos. No cargo, o petista se tornou referência internacional em segurança alimentar, com projetos inovadores de combate à fome, com inclusão da agricultura familiar na merenda escolar, entre outras iniciativas.

Em 2008, o petista venceu as eleições internas do partido para ser o vice de Hélio. Durante as investigações de irregularidades na Sanasa, Demétrio foi arrolado pelo Ministério Público, mas não houve nada de concreto contra o petista que prestou todos os esclarecimentos citados. Em um cenário político turbulento, o petista já pediu união de todos os partidos e demais setores da sociedade para comandar a cidade.