sábado, 7 de janeiro de 2012

Policiais militares revistam suspeitos durante operação nas ruas da cracolândia, no centro
Juca Varella/Folhapress
 Poder público bate cabeça 
em operação na cracolândia
Órgãos de assistência social foram avisados apenas às vésperas de a PM agir. Oficialmente, Estado e prefeitura negam precipitação e dizem que estava tudo acertado previamente


DE SÃO PAULO
A despeito do prévio acordo político entre o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito Gilberto Kassab (PSD) para intervir na cracolândia ainda no início do ano, a deflagração da operação policial no centro de São Paulo já no dia 3 de janeiro foi decidida pela PM sem a participação de órgãos de assistência social da cidade.
Setores diretamente ligados ao assunto, como a Secretaria Municipal da Assistência Social, ficaram sabendo da data da operação apenas cinco dias antes -às vésperas da virada do ano.
Os órgãos municipais receberam um e-mail de um membro do Comuda (Conselho Municipal de Políticas Públicas de Drogas e Álcool) que esteve no prédio da PM na quinta do dia 29 de dezembro, quando a data da operação foi informada pelos policiais.
Na mensagem, o conselheiro alertava para a necessidade de reforçar equipes a fim de lidar com as consequências da ação policial.
Um grande centro de acolhimento da prefeitura na região capaz de atender até 1.200 viciados sequer estava pronto, motivo pelo qual a pasta da Assistência defendia que a operação não ocorresse tão cedo. O centro será aberto só no dia 30 deste mês.
Um integrante da cúpula da Segurança Pública afirmou à Folha, em caráter reservado, que houve precipitação do início da operação. Ainda faltava, disse ele, uma série de reuniões para afinar os detalhes da intervenção.
Pode ter havido, segundo ele, uma falha de comunicação interna na Policia Militar.
O secretário da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, nega ter havido tal precipitação. Oficialmente, governo e prefeitura dizem que tudo foi acertado previamente.
No final da tarde de ontem, o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual, proibiu a PM de dar mais informações à imprensa sobre a operação. Agora, a comunicação será feita apenas pela Secretaria de Estado da Justiça.
SÓ DEPOIS
Ontem, apenas no quarto dia da operação, o governo Alckmin anunciou que decidiu reservar 286 vagas de acolhimento social -já contratadas anteriormente- apenas para viciados em crack.
Segundo o secretário de Estado de Desenvolvimento Social, Rodrigo Garcia, haverá vagas em 33 instituições em 12 regiões do interior do Estado, onde usuários de crack da capital podem morar por longos períodos e passar por tratamentos de desintoxicação.
A gestão Kassab, no entanto, nunca afirmou que tinha necessidade desse tipo de atendimento. Ao contrário, alega que há vagas suficientes contratadas por ela.
"Toda pessoa de rua que é dependente química e que aceitar tratamento, terá tratamento", afirma a vice-prefeita de São Paulo e secretária da Assistência Social, Alda Marco Antonio, referindo-se à capacidade da prefeitura de dar conta da demanda.
Segundo ela, a Assistência tem 10 mil leitos de retaguarda para moradores de rua que podem ser usados por viciados. Já a Secretaria Municipal da Saúde, afirmou Alda, tem 360 vagas próprias "e mais tantas quantas forem necessárias no setor privado" específicas para o tratamento.
Também só ontem a Prefeitura de São Paulo informou que vai emitir um alerta para os profissionais de saúde de 15 AMAs (Assistência Médica Ambulatorial) de que elas terão de se preparar para receber dependentes químicos.

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