sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
Aeroportos, há diferenças, mas…
O Estado brasileiro era tão privatizado nos tempos de FHC que quando
Lula assumiu quase todos os funcionários do Ministério do Trabalho eram
contratados a partir de empresas terceirizadas. Ou seja, o chip
neoliberal estava instalado em todos os cantos do governo. Não era
apenas na venda de patrimônio público por moeda podre. O modelo fazia
parte de uma visão que considerava que o Estado deveria ser mínimo e
fazer o mínimo. E que deveria estar a serviço do capital, se possível
internacional.
A concessão dos principais aeroportos do país pelo longo período de até
25 anos pelo governo Dilma pode ser condenada (e está sendo) pelo seu
caráter privatista, mas é diferente do que ocorreu nos tempos tucanos. O
Estado brasileiro poucas vezes foi tão atuante e forte quanto no
período Lula e Dilma.
Quando o senador Aécio Neves fala que o PT está usando um “software
pirata” dos tempos de FHC para fazer um bom governo, sofisma. Quando FHC
sai gravando vídeos para defender “a privatização” de Dilma, também
busca ludibriar a patuléia. E limpar sua barra.
De qualquer forma o governo precisa dialogar com os movimentos sociais e
com amplos setores da sociedade sobre a decisão que tomou. Dialogar
mesmo. Sem arrogância e de forma mais clara.
Os tucanos perceberam que essa privatização (ou concessão) abre caminho
para relançar o discurso de que privatizar é bom. E que o PT só obtém
sucesso no governo porque os copiou. E isso será usado nas próximas
eleições: pra que ficar com o falsificado se você pode ter o original?
Ao mesmo tempo abriu enorme desconfiança nos setores populares sobre os
compromissos de Dilma em relação ao que foi base de seu discurso de
campanha. E o tema das privatizações acaba unificando uma série de
insatisfações.
Há muita gente dos movimentos sociais insatisfeita com o governo em
diversas áreas. Só pra ilustrar: cultura, comunicação, reformas urbana e
agrária, meio ambiente, movimentos indígena e sindical etc.
Esse processo dos aeroportos não tem nada a ver com as privatizações dos
tempos bicudos de FHC, mas ao mesmo tempo pode significar a abertura da
porteira para que mosquito neoliberal contamine o atual governo.
E isso seria o início do fim.
Zapatero achou que poderia se dar bem agradando o sistema econômico e
financeiro e brigando com seus aliados históricos do movimento social.
Às vezes dá a impressão de que Dilma também acha isso.
Na Espanha, o resultado foi calamitoso. O PS foi massacrado nas últimas eleições. E Zapatero se tornou um cadáver político.
É melhor errar com os seus, do que achar que se está acertando com aqueles que vão lhe apunhalar na próxima esquina.
É bom levar isso em consideração. Sempre.
Publicado na Revista Fórum
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