sábado, 17 de março de 2012

Aziz Ab'Saber, por Randau Marques

Por Randau Marques
Nassif,
Aziz Nacib Ab'Saber é, pois para a História nunca morrerá, um dos artífices do fim da ditadura de 64 - não ouso falar em redemocratização pois certamente ele diria que esta ainda está em curso, ainda não a alcançamos. Eu o conheci no fim dos anos 60, ao ficar livre da Oban/Deops e entrar no JT, ao procurar em um diminuto sobrado da rua Cardeal Arcoverde a SBPC e ali encontrar uma psicóloga comportamental, Carolina Bori, que nos propôs a criação de uma Comissão de Problemas Ambientais. Nascia ali o núcleo de uma resistência contra o desenvolvimentismo a qualquer preço pregado pelo regime militar, responsável pelas primeiras manifestações da sociedade civil brasileira contra a construção de três usinas nucleares em Iguape - que reuniram milhares de pessoas em plena avenida Paulista; contra as mega-hidrelétricas na Amazônia; contra o aeroporto metropolitano na reserva hídrica de Caucaia do Alto; contra a Transamazônica e toda série de devastações incentivadas que ali ocorriam; contra a poluição no pólo síderopetroquímico de Cubatão. Contra, enfim, o "Brasil Potência" ou "Milagre Brasileiro".
mor reverencial dos generais pelos cientistas capazes de fabricar a tão sonhada bomba atômica verde-amarela explica o êxito da legenda da SBPC versus Ditadura, até pelo simples fato de que as recomendações da sociedade contra essas obras e crimes eram aprovadas em Assembléia Geral e respeitosamente encaminhadas às autoridades, ao mesmo tempo em que a imprensa lhes dava destaque. Ao longo de quase duas décadas e meia, escrevi centenas de reportagens, que escapavam dos censores graças ao fato de sempre colocar nos textos o nome do almirante José Luiz Belart, colega e amigo íntimo do general Humberto de Alencar Castelo Branco e extremamente simpático às causas ambientais - como então eram chamados esses atos de resistência contra o arbítrio. Ou o nome de físicos como Oscar Sala, que enquanto presidente da SBPC ou do Instituto de Física da USP tinha essa imunidade científica de que o professor Aziz Ab'Saber usava e abusava, ao defender a sociedade civil brasileira pobre, desvalida e sem voz, contra os desmandos de uma elite econômico-financeira que, infelizmente, soube manter sua supremacia, ao aderir a uma "redemocratização" que não conta com um Judiciário, Legislativo e Executivo escoimados da corrupção. O resto, a neutralização da SBPC e demais ongues dignas desse nome, simultâneamente ao sucateamento da Educação e da adoção do neoliberalismo pela grande mídia, explica a razão pela qual Ab'Saber e nossos grandes sonhos desapareceram da mídia há uns 24, 25 anos, desde que a Constituição Cidadã pela qual lutamos passou a ser mais conhecida como CF, Constituição Fantasma. Aziz Ab'Saber foi um dos maiores cientistas que já tivemos, mas, sobretudo, um brasileiro que arrostou a ditadura através de sua coragem pessoal de dizer tantas verdades incômodas ao regime, transformando a geografia numa somatória de disciplinas especializadas em promover o bem estar e a igualdade sociais em nosso país. Como seu aluno, amigo e companheiro de lutas, só posso lamentar a hora que passa, na certeza de que o seu resgate pela História Contemporânea continuará a fazer dele uma presença imortal para quantos ainda lutam e anseiam por uma democracia digna desse nome para nossa Nação.Randáu Marques

Um comentário:

  1. Sim Randáu! O professor Aziz nos inspira! A todos nós ex alunos de diferentes épocas, que vimos o mesmo homem, cientista e eterno provocador, falando baixinho, miudinho como fala o povo lá do meio do Vale do Paraíba, mas que sacode os pilares geológicos de todos os vales e serras, planaltos e planícies do nosso amado Brasil!

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