quarta-feira, 28 de março de 2012
Leonardo Attuch
Que Vossa Excelência perdoe o chiste, mas o apelido é inevitável:
Senador Cachoeira! Primeiro, ficamos escandalizados com a revelação de
que o senhor, Catão da República, e também moralista número 1 do
Congresso Nacional, é um amigo do peito de um dos nossos maiores
contraventores. Mais escandalizados ainda com a sua desculpa de que não
sabia que Carlinhos Cachoeira se dedicava a atividades ilegais. Depois,
novo espanto com a notícia de que essa amizade fraterna era de copa e
cozinha, com direito a fogões trazidos dos Estados Unidos. Quando nada
mais podia nos surpreender, surgiram as 298 ligações telefônicas, mais
de uma por dia, trocadas com o “professor” no período monitorado pela
Polícia Federal. Em seguida, a descoberta de que as conversas eram
feitas num rádio Nextel trazido dos Estados Unidos – “esta é a minha
vida, este é o meu clube”. E agora, de repente, descobrimos que o
senhor, senador Demóstenes Torres, também pediu dinheiro ao bicheiro
Carlinhos Cachoeira.
Quer saber se isso nos surpreende? Não. De jeito nenhum. Suas desculpas
esfarrapadas é que preparam o terreno para recebermos com naturalidade
cada vez maior os fatos novos da Operação Monte Carlo. Se amanhã nos
disserem que Cachoeira despachava no seu gabinete, que ele teria
financiado sua campanha ao Senado ou que os senhores, além de amigos,
eram também sócios, tudo parecerá ser natural. Previsível até. Tão
previsível quanto a queda de um moralista no Brasil, terra-mãe de Dercy
Gonçalves. Aqui, não há um que resista. E todos os justiceiros que fazem
desse método de ação política uma escada para o poder, mais cedo ou
mais tarde acabam caindo.
Ocorre que alguns são perdoados. Outros, não. Ensina a sabedoria popular
que o povo perdoa o pecador; o pregador, jamais. Então, se vale um
conselho, senador Demóstenes, assuma-se como Senador Cachoeira. Defenda a
legalização do jogo, apresente bons argumentos (que até existem), mas
não tente posar novamente como o único homem probo do Senado, assinando
pedidos de CPIs e emparedando adversários com uma moralidade postiça. O
povo brasileiro detesta a hipocrisia.
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