sexta-feira, 6 de abril de 2012
Grampo publicado pelo JB mostra Carlinhos Cachoeira parabenizando o
diretor de Veja por reportagem; conversa se deu após denúncia de
corrupção em Brasília; em agosto do ano passado, os dois almoçaram
juntos; na sequência, ministros foram filmados no Naoum; na edição desta
semana, Veja silencia
Uma semana atrás, a revista Veja publicou trecho de uma conversa entre o
bicheiro Carlos Cachoeira e o araponga Jairo Martins, relacionada a seu
diretor em Brasília, Policarpo Júnior. “O Policarpo nunca vai ser
nosso”, disse Cachoeira a Jairo e, com este atestado de idoneidade,
fornecido pelo bicheiro, Veja tentou virar a página e encerrar a
discussão sobre seu polêmico relacionamento com um dos maiores
contraventores do País. Pois neste fim de semana, o Jornal do Brasil
reabriu o caso. Na sua página, o JB publicou todo o inquérito da
Operação Monte Carlo e dois trechos de grampos constrangedores para a
maior revista semanal do País (leia mais aqui).
No dia 30 de julho de 2011, segundo a Polícia Federal, Carlos Cachoeira
enviou uma mensagem a Policarpo Júnior. Nela, o bicheiro parabenizava o
jornalista por uma reportagem. Também de acordo com a PF, Policarpo
respondeu agradecendo. Na reportagem do JB, não se faz menção a nenhuma
reportagem específica. Mas o mais provável é que ela diga respeito a uma
matéria publicada por Veja no dia 27 de julho de 2011, sobre Daniel
Tavares, ex-funcionário do laboratório União Química, que acusava – e
ainda acusa – o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, de
receber propinas. Ela foi assinada pelo repórter Gustavo Ribeiro, que é o
mesmo que se envolveu na polêmica tentativa de invasão de um quarto no
Hotel Naoum, onde se hospedava o ex-ministro José Dirceu – há suspeitas
de que o filme também tenha sido produzido por pessoas ligadas a
Cachoeira. Embora seja mais conhecido por suas atividades no ramo de
jogos ilegais, o contraventor Cachoeira também tem negócios na área
farmacêutica.
Depois, no dia 11 de agosto de 2011, Cachoeira fala com o interlocutor
Lenine sobre um almoço que teria com Policarpo Júnior. E pede a Lenine
que busque o diretor de Veja no “aeroporto pequeno”, no que seria um
eventual indício de uso de jato particular. O relatório da Polícia
Federal, publicado pelo JB, também não menciona qual teria sido o
assunto tratado por Policarpo e Cachoeira no referido almoço. Vinte dias
depois, Veja publicou a polêmica capa sobre os encontros do Hotel
Naoum. Além de José Dirceu, foram filmados ministros, como Fernando
Pimentel, do Desenvolvimento, e o ex-presidente da Petrobras, José
Sérgio Gabrielli. O caso contribuiu para a queda do então redator-chefe
de Veja, Mario Sabino, pois coincidiu com a chegada de Fábio Barbosa,
que prega um discurso ético, ao comando da Abril.
Silêncio absoluto
Na edição desta semana, Veja, mais uma vez, evita fazer uma autocrítica.
Não há nenhuma menção ao caso Policarpo Júnior. Sobre a Operação Monte
Carlo, uma reportagem do repórter Rodrigo Rangel sobre possíveis
depósitos milionários na conta do senador Demóstenes Torres, feitos pela
quadrilha de Cachoeira. O mesmo Demóstenes que já foi classificado por
Veja como um “mosqueteiro da ética”.
Escândalos semelhantes, em outros países, têm provocado investigações
sérias. No Reino Unido, James Murdoch, filho do magnata australiano
Rupert Murdoch, afastou-se do comando do grupo BSkyB depois da revelação
de que os tabloides da família publicavam grampos clandestinos.
No Brasil, há um pacto de silêncio entre os grandes veículos em torno do
caso Veja-Cachoeira, mas ele foi quebrado, no Parlamento, pelo deputado
Fernando Ferro (PT-PE), que, da tribuna, disse que “Veja se associou ao
crime organizado”. De acordo com o parlamentar, só uma investigação
isenta, numa CPI, poderá esclarecer o vínculo real entre a revista e o
bicheiro.
No Brasil 247
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