Dilma: técnica e política? (Brasil Econômico)
Em
seu primeiro ano à frente da Presidência, Dilma Rousseff consegue
provar que é possível ter uma gestão técnica e, mesmo assim, manter as
bases políticas do governo.
Uma ligeira mudança no rumo do governo para a esquerda, com políticas
mais intervencionistas, aumento do papel do estado na economia, bem como
o das estatais. Este era o prognóstico dos mais pessimistas quanto à
chegada de Dilma Rousseff ao poder.
O perfil técnico da presidente, aliado a uma carreira de baixa expressão
política, foram os ingredientes ideais àqueles que previam a
deterioração da qualidade da política econômica do país, especialmente
em relação a uma possível falta de jogo de cintura para lidar com os
problemas entre os partidos aliados.
Pois passado um ano, os problemas vieram e Dilma não se livrou do
estigma de uma presidente técnica, mas surpreendeu mostrando
personalidade para equilibrar os conflitos internos - afinal, só neste
semestre caíram sete ministros -, manter ainda boa popularidade e, pouco
a pouco, ir mostrando que nem sempre segue os caminhos do ex-presidente
Lula.
Christopher Garman, diretor para a América Latina do Eurasia Group,
garante que não foram poucos momentos em que isto aconteceu. Enquanto o
presidente Lula tinha resistências a encaminhar concessão para
aeroportos, Dilma foi mais pragmática e defendeu a participação do
capital privado para desenvolver a deficitária área de transportes.
"Na verdade, ela já defendia isso quando era ministra da Casa Civil",
diz. "Na crise internacional, por exemplo, a presidente tem uma forma
mais prática de agir, uma visão economicista. Ela usa a oportunidade
para vender o Brasil no cenário externo, e aqui dentro, para baixar
juros, incentivando a economia", ressalta.
A atuação do Banco Central (BC) é outro exemplo, diz Ernesto Lozardo,
professor da EAESP/FGV. Para ele há um grande contraste na atuação do BC
entre os governos Lula e Dilma.
Lozardo diz que Henrique Meirelles, ex-presidente do BC, tinha como
função principal olhar a demanda do mercado interno e, a partir dela,
planejar as políticas monetárias.
"Já Alexandre Tombini está mais atento ao cenário internacional e como
as mudanças externas podem afetar o país no longo prazo. Não é uma
política imediatista", explica Lozardo.
Em contrapartida, quando o assunto são gastos, Dilma surpreende ao ser
mais conservadora do que Lula. É fato também que o cenário político no
segundo mandato de Lula não pediu grandes precauções. Mas dentro do
contexto atual, Dilma reduziu gastos e cortou investimentos. "No
Congresso, ela não quis negociar nenhum aumento de gastos na Emenda 29
como condição de renovar a DRU (Desvinculação de Recursos da União).
Também tem resistido às pressões para aumentar benefícios
previdenciários", aponta Garman.
Herança maldita?
Outro bom termômetro da administração pós-Lula é a relação da presidente
Dilma com seu quadro de ministros. As expectativas eram variadas sobre
os novos nomes indicados para a Esplanada nos dias seguintes à posse -
talvez o primeiro movimento por mais eficiência e menos favores e
dívidas políticas, apontavam analistas.
"O fato é que não existiu rompimento de equipe entre Dilma e Lula",
afirma Carlos Melo, professor e cientista político pelo Insper. "A
lógica de governo é sempre política", completa.
E essa herança política vem pesando para Dilma. "O Lula, quando fez uma
coalizão de governo, que é a forma de governar típica do
parlamentarismo, aumentou a ligação de poder entre os ministros e as
bancadas de seus partidos no Congresso. E não é à toa que toda vez que
um ministro está balançando, ele vai ao Congresso pedir apoio à sua
bancada", explica o sociólogo Rudá Ricci.
"Ela não sabe administrar os conflitos partidários. Perdeu o PR, está a
um passo de perder PDT, e o PMDB está seguindo caminho solo nas eleições
2012."
Agora, prestes a realizar uma reforma nas pastas do Executivo, em
janeiro, Dilma tem uma oportunidade para racionalizar também seu
organograma, o que só será possível se aliado a sustentação política dos
partidos de base.
O tema está sendo discutido juntamente a dois conselheiros: Lula e o
empresário e tecnocrata Jorge Gerdau. Resta saber quem terá mais ouvidos
da presidente em 2012.
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