domingo, 8 de janeiro de 2012

O século de Carlos Marighella


Por Emiliano José

...Quem gracilianamente deságua desta vida seca agrária

Ou na solidão urbana sonha a vida humana solidária

Quem na cartilha suburbana soletra o nome fulô

Quem nasce de negra índia ou branco

E sobe ligeiro ou manco as ladeiras do Pelô

Quem descasca uma banana

E se consome no sonho da grande mesa comum

Para a imensa toda fome

Quem assim vive não morre

Vai virando jacarandá ou poesia pau-brasil

Virando samba e cachaça

Se torna gol de Garrincha se torna mel de cabaça

Se torna ponta de lança do esporte clube da raça

Se torna gente embora gente nem nascida

Mas (quem sabe?) pode ser

Um dia gauche na vida

Se torna nossa aquarela

Torna-se Carlos Marighella

Um anjo doce na morte

Que os homens tortos quiseram

Sem que te matassem ainda.

(Trecho do poema “Vai Carlos, ser Marighella na vida”, de José Carlos Capinan, maio de 1994)

Nossa aquarela, Carlos Marighella, completa um século de nascido nesse 5 de dezembro de 2011. Assassinado pelos verdugos da ditadura na noite de 4 de novembro de 1969, na Alameda Casa Branca, em São Paulo, Marighella a cada ano é lembrado como uma referência da luta do povo brasileiro e dos povos oprimidos de todo o mundo. Continua impressionantemente vivo na memória da nossa gente.

Da ditadura e seus verdugos, nos lembramos com asco e indignação, e com a convicção de que devemos conhecer toda a verdade de seus crimes e horrores para que nunca mais se repita entre nós. A Comissão Nacional da Verdade há de fazer isso: resgatar a nossa verdade histórica.

Sou tentado sempre a voltar ao belo prefácio do notável Antonio Candido ao meu livro sobre Marighella. Os grandes homens começam por ser reconhecidos e avaliados em âmbito restrito, apenas entre seus pares, por aqueles que comungam de suas ideias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário