Por Emiliano José
...Quem gracilianamente deságua desta vida seca agrária
Ou na solidão urbana sonha a vida humana solidária
Quem na cartilha suburbana soletra o nome fulô
Quem nasce de negra índia ou branco
E sobe ligeiro ou manco as ladeiras do Pelô
Quem descasca uma banana
E se consome no sonho da grande mesa comum
Para a imensa toda fome
Quem assim vive não morre
Vai virando jacarandá ou poesia pau-brasil
Virando samba e cachaça
Se torna gol de Garrincha se torna mel de cabaça
Se torna ponta de lança do esporte clube da raça
Se torna gente embora gente nem nascida
Mas (quem sabe?) pode ser
Um dia gauche na vida
Se torna nossa aquarela
Torna-se Carlos Marighella
Um anjo doce na morte
Que os homens tortos quiseram
Sem que te matassem ainda.
(Trecho do poema “Vai Carlos, ser Marighella na vida”, de José Carlos Capinan, maio de 1994)
Nossa aquarela, Carlos Marighella, completa um século de nascido nesse 5 de dezembro de 2011. Assassinado pelos verdugos da ditadura na noite de 4 de novembro de 1969, na Alameda Casa Branca, em São Paulo, Marighella a cada ano é lembrado como uma referência da luta do povo brasileiro e dos povos oprimidos de todo o mundo. Continua impressionantemente vivo na memória da nossa gente.
Da ditadura e seus verdugos, nos lembramos com asco e indignação, e com a convicção de que devemos conhecer toda a verdade de seus crimes e horrores para que nunca mais se repita entre nós. A Comissão Nacional da Verdade há de fazer isso: resgatar a nossa verdade histórica.
Sou tentado sempre a voltar ao belo prefácio do notável Antonio Candido ao meu livro sobre Marighella. Os grandes homens começam por ser reconhecidos e avaliados em âmbito restrito, apenas entre seus pares, por aqueles que comungam de suas ideias.
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