Sorria, você está sendo curado
É de estarrecer a nota da Agência Estado,
dizendo – é literal – que a prefeitura e o Governo de S. Paulo estão
buscando usar “dor e sofrimento” como estratégia de combate ao uso de
crack.
Seria, em resumo, ir
enxotando os usuários e traficantes dos pontos onde se fixam, para
forçar os primeiros a buscarem ajuda e os segundos a desistirem do
negócio.
Diz o o coordenador
anti-drogas da Governo do Estado, Luiz Alberto Chaves de Oliveira,
conhecido como Dr. Laco (sem cedilha, por favor):
-
A falta da droga e a dificuldade de fixação vão fazer com que as
pessoas busquem o tratamento. Como é que você consegue levar o usuário a
se tratar? Não é pela razão, é pelo sofrimento. Quem busca ajuda não
suporta mais aquela situação. Dor e o sofrimento fazem a pessoa pedir
ajuda.
E a secretária municipal
de Assistência e Desenvolvimento Social, Alda Marco Antonio, promete até
março – até março – que haverá 1.200 vagas para tratamento de
dependentes.
O resultado desta genial terapêutica está retratado no portal R7:
expulsos da Cracolândia original, proximo à Praça Julio Prestes, na
capital paulista, viciados já montaram outra na Zona Sul Paulista e se
espalham em pequenos núcleos próximos a região da Luz.
Ora,
ninguém pode ser contra ações repressivas que impeçam a formação de
“bairros do crack”, nem desconsiderar o direito dos cidadãos que moram e
trabalham nestas áreas. Nem compreender que, em alguns casos, tenha de
ser contida com mais que um “por favor” a agressividade de pessoas
fortemente drogadas e nas condições deploráveis que o crack produz.
Mas
um profissional e um chefe de um serviço de saúde pública dizer que
causar “dor e sofrimento” seja uma ação terapêutica, pelo amor de Deus!
Seria voltar aos primórdios da ciência médica, ou dar razão aos
inquisidores da Idade Média que pensavam ser a masmorra e a tortura
instrumentos de conversão à fé.
Mas
aqueles pobres sujeitos, degradados e abandonados, merecem, não é?
Certamente o Dr. Laco (sem cedilha, por favor), acompanha a polícia às
festas chiques dos Jardins para provocar “dor e sofrimento” para fazer
os consumidores de drogas “pedirem ajuda” para se tratar, segundo o
mesmo critério terapêutico.
Fernando Brito
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