sábado, 18 de fevereiro de 2012


Editoriais-editoriais@uol.com.br
Política invertebrada 
 
Crise entre PT e PSB expõe caráter "pós-ideológico" e amorfo do sistema político brasileiro, movido a fisiologia e interesses eleitorais O escândalo da vez em Brasília joga luz sobre o papel desempenhado pelo Partido Socialista Brasileiro, o PSB, no maleável esquema de alianças que sustenta nosso invertebrado sistema político.
A onda de denúncias contra o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra (PSB), serviu para colocar em evidência as dificuldades que marcam a aliança do partido com o governo petista, firmada desde o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.
O PSB acusa o PT de insuflar as denúncias com o objetivo de capturar a pasta na reforma ministerial que a presidente Dilma Rousseff deverá fazer em breve.
Mais que isso, a turbulência deixou patente que a aliança dos "socialistas" com o governo é, sobretudo, pragmática -o partido padece da mesma lassidão ideológica que se constata em outras agremiações, como o PMDB de Michel Temer ou o PSD de Gilberto Kassab.
Com efeito, a fórmula pela qual o prefeito de São Paulo definiu sua sigla -"não é de direita, nem de esquerda, nem de centro"- aplica-se sem grande esforço ao PSB e a grande parte da política brasileira. Não se deve esquecer, aliás, que o PSD foi concebido como uma espécie de ponte para uma futura fusão com o PSB, criando, assim, um rival à altura do PMDB na geleia político-ideológica do país.
Estrela maior do pessebismo, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, joga com a possibilidade de aliar-se tanto ao PT quanto ao PSDB nas próximas eleições presidenciais e, com isso, desestimula ataques de ambos os lados ao combalido ministro de seu partido.
Assim, mesmo diante do aparelhamento do Ministério da Integração Nacional, apinhado de apaniguados, quase não se ouvem críticas, a não ser da imprensa.
Se PT e PSDB podem ser considerados as balizas que dão ainda alguma racionalidade ao sistema político, é claro o interesse de ambos em não melindrar o PSB, força eleitoral ascendente, que conta com seis governadores pelo país, quatro deles no Nordeste, região onde se tornou muito forte.
Aos 46 anos, governador mais bem avaliado do país e aspirante à Presidência, Eduardo Campos personifica bem a fórmula política que impulsionou a ascensão do PSB.
De um lado, uma posição "pós-ideológica", na qual as alianças são definidas com base na viabilidade de projetos eleitorais. De outro, um apego a práticas "coronelistas", evidente em episódios como a campanha vitoriosa para conceder à mãe do governador, deputada neófita, uma vaga no Tribunal de Contas da União.
O PSB, evidentemente, não pode ser apontado como culpado pela lamentável paisagem política brasileira. É mais um produto da dissolução das ideologias e da falta de projetos bem definidos para o futuro do país.

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico o

Nenhum comentário:

Postar um comentário