segunda-feira, 23 de abril de 2012

CHEIA DE PUBLICIDADE, VAZIA DE BOM JORNALISMO, ASSIM A REVISTA VEJA REFLETE A MÍDIA NATIVA, DIZ MINO CARTA


E assim funciona boa parte da imprensa nacional...

Quando o fato explode, foge-se do assunto com amenidades. Quando o fato se comprova e o cerco começa a se fechar, o melhor é desviar a atenção para o outro lado. Assim é que parece agir a revista Veja, reflexo perfeito da mídia nativa, de seus valores, de como e em que ela se funda, para o jornalista Mino Carta.

Já era de se esperar que o escândalo  envolvendo o bicheiro Carlinhos Cachoeira fosse atingir muita gente, revelando coisas escusas, que, para alguns, melhor seria que nunca viessem à tona. O fato é que o escândalo está revelando muito mais do que se pensava sobre o patronato midiático nacional, como diz Mino.

Quando estourou o caso, a revista Veja recorreu ao santo sudário. Agora que a CPI do Cachoeira está instalada, ela recupera o mensalão e decide a todo custo dar como certo um escândalo que está longe de ser totalmente esclarecido com a clara intenção de confundir a população.

Como lembra Mino, o mensalão e o caso Cachoeira não têm nada a ver um com o outro. Mas faz parte da receita da casa grande aproximar coisas arbitrárias, é assim que se fundam seus discursos. O mensalão como diz Mino, reafirmando a postura de Carta Capital, ainda não foi provado, já as evidências de corrupção no caso Cachoeira, bem como o envolvimento da revista Veja são praticamente indiscutíveis. O julgamento a respeito do mensalão cabe ao Supremo Tribunal Federal não à revista Veja.

Jornalista não julga. Noticia. Preceito básico. E se afirma tem que ter provas. Estas ainda não são suficientes para confirmar o mensalão, como aliás reconheceu o próprio presidente do Supremo ministro Ayres Brito. Já a CPI do Cachoeira, independente de seus resultados, é tida por Mino como dotada de expressivo potencial para tornar-se o inquérito da mídia nativa!

Veja seu editorial à Carta Capital:



20.04.2012 10:18

CPI da mídia?

Capas exemplares. Quando o caso explode, a revisitação do Sudário. Decidida a CPI, a versão que agrada ao patrão. Recheada de anúncios, a última edição da Veja esmera-se em representar à perfeição a mídia nativa. A publicidade premia o mau jornalismo. Mais do que qualquer órgão da imprensa, a semanal da Editora Abril exprime os humores do patronato midiático em relação à CPI do Cachoeira e se entrega à sumária condenação de um réu ainda não julgado, o chamado mensalão, apresentado como “o maior escândalo de corrupção da história do País”.
A ligação entre o inquérito parlamentar e o julgamento no Supremo Tribunal Federal é arbitrária, a partir das sedes diferentes dos dois eventos. Mas a arbitrariedade é hábito tão arraigado dos herdeiros da casa-grande a ponto de formar tradição. Segundo a mídia, a CPI destina-se a desviar a atenção da opinião pública do derradeiro e decisivo capítulo do processo chamado mensalão. Com isso, a CPI pretenderia esconder a gravidade do escândalo a ser julgado pelo Supremo.
O caso revelado pelo vazamento dos inquéritos policiais que levaram à prisão do bicheiro Cachoeira existe. Pode-se questionar o fato de que o vazamento se tenha dado neste exato instante, mas nada ali é invenção. Inclusive, a peculiar, profunda ligação do jornalista Policarpo Junior, diretor da sucursal de Veja em Brasília, com o infrator enfim preso. Não é o que se espera de um qualificado integrante do expediente de uma revista pronta a se apresentar como filiada ao clube das mais importantes do mundo. Pois é, o Brasil ainda é capaz de dar guarida a grandes humoristas.
Não faltam, nesta área, os alquimistas, treinados com requinte para cumprir a vontade do patrão. Jograis inventores. Um deles sustenta impávido que a presidenta Dilma despenca em São Paulo para recomendar a Lula toda a cautela em apoiar a CPI do Cachoeira, caldeirão ao fogo, do qual respingos candentes poderão atingir o PT. É possível. E daí? Certo é que a recomendação não houve. E que o Partido dos Trabalhadores escala, no topo da pirâmide, um presidente, Rui Falcão, tão pateticamente desastrado ao rolar a bola na boca da pequena área para o chute midiático. Disse ele que a CPI vinha para “expor a farsa do mensalão”. De graça, ofertou a deixa preciosa aos inimigos. Só faltava essa…
De todo modo, o mensalão. Se o inquérito policial falou claro a respeito de Cachoeira e companhia, o mensalão ainda não foi provado. É este um velho argumento de CartaCapital, pisado e repisado. É inaceitável, em tese, antecipar-se ao julgamento, mesmo que no caso haja razoável clareza para admitir outros crimes, como uso de caixa 2 e lavagem de dinheiro. Não há provas, contudo, de um pagamento mensal, mesada pontual a irrigar o Congresso. A sentença compete ao Supremo, e a presença de Ayres Brito na presidência do tribunal representa uma garantia. O mesmo Ayres Brito que não aceita declarar mensalão enquanto carece de provas.
Sobra a CPI do Cachoeira. Veremos o que veremos. Resta, de minha parte, a convicção de que poderia tornar-se o inquérito da mídia nativa. Outros são os jornalistas (jornalistas?) envolvidos, além de Policarpo Junior, de sorte a configurar a chance de naufrágio corporativo. Entendam bem, evito ilusões. Não creio, infelizmente, que o Brasil esteja maduro para certos exames de consciência entre o fígado e a alma.
Casa-grande e senzala continuam de pé e, por ora, falta quem se atire à demolição. No fundo, os graúdos sempre anseiam aparecer no Jornal Nacional e nas páginas amarelas de Veja. Um convescote promovido por João Dória Jr., de próxima realização, conta com a presença de 14 governadores. Nem ouso me referir ao ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, advogado de Cachoeira. O qual, obviamente, está em ótimas mãos. Igual a Daniel Dantas.
Resta algo mais, merecedor de destaque e, suponho em vão, da atenção da mídia nativa. Passou oito anos a agredir o presidente Lula e o agredido contumaz deixou o governo com quase 90% de aprovação. A presidenta Dilma, embora ex-guerrilheira não é ex-metalúrgica, e tem merecido alguma condescendente compreensão. Mesmo assim, se houver oportunidade, não será poupada. Por enquanto, cuida-se, de quando em quando, de colocar pedras em seu caminho. Não são o bastante, ela cresce inexoravelmente em popularidade. Não me arrisco a crer que os alicerces da senzala comecem a ser abalados, já me enganei demais ao longo da vida. Por parte da mídia, não valeria, porém, analisar os fatos com um mínimo de realismo?

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