segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

CARNAVAL E FOLIA E SAMBA E CULTURA

 
 Gilson Negao – Colaborador da Associação FalaNegão/Fala Mulher
                        Embaixador do Samba Paulistano.

Fevereiro e o mês do Carnaval, ou Carne vales, como eram conhecidos antigamente, uma festa Grega, ligada aos cultos e colheitas.

A HISTORIA
Segundo nosso grande historiador, Hiram Araújo, em seu livro Carnaval, relata que a origem das festas carnavalescas não tem como ser precisamente estabelecida, mas que deve estar relacionada aos cultos agrários, às festas egípcias e, mais tarde ao culto a Dionísio, ritual que acontecia na Grécia, entre os anos 605 e 527 a.C. Uma coisa, porém é comum a todos: o carnaval tem sua história, como todas as grandes festas, ligada a fenômenos astronômicos ou da natureza. Há quem defenda que o termo carnaval deriva de carne vale (adeus carne!) ou de carne levamen(supressão da carne).

Aqui no Brasil, tudo começou com o Entrudo:
O entrudo chegou ao Brasil por volta do século XVII e foi influenciado  pelas festas carnavalescas que aconteciam na Europa. Em países como Itália e França, o carnaval ocorria em formas de desfiles urbanos, onde os carnavalescos usavam máscaras e fantasias. Personagens como a colombina, o pierrô e o Rei Momo também foram incorporados ao carnaval brasileiro, embora de origem européia.

No final do século XIX, começam a aparecer os primeiros blocos carnavalescos, cordões e os famosos "corsos". Estes últimos, tornaram-se mais populares no começo dos séculos XX. As pessoas se fantasiavam, decoravam seus carros e, em grupos, desfilavam pelas ruas das cidades. Está ai a origem dos carros alegóricos, típicos das escolas de samba atuais.

Origem e história das escolas de samba do Brasil 
A Deixa Falar foi a primeira escola e samba do Brasil. Ela foi fundada em 18 de agosto de 1928, na cidade do Rio de Janeiro, por Nilton Basto, Ismael Silva, Silvio Fernandes, Oswaldo Vasques, Edgar, Julinho, Aurélio, entre outros. 
O termo “escola de samba” foi usado, pois na rua Estácio, onde aconteciam os ensaios, havia uma Escola Normal. A escola de samba Deixa Falar funcionava ao lado desta Escola Normal, e como na época os negros eram proibidos de frequentar a ``Escola Normal`` eles fundaram sua própria escola, usando os seguintes argumentos se la ``Escola Normal`` eles ensinam a ler e escrever, ``aqui nos vamos ensinar a Sambar``.

A Deixa Falar fez muito sucesso entre os moradores da região. Ela acabou por estimular a criação, nos anos seguintes, de outras agremiações de samba. Surgiram assim, posteriormente, as seguintes escolas de samba: Cada Ano Sai Melhor, Estação Primeira (Mangueira), Vai como Pode(Portela), Vizinha Faladeira, e Para o Ano sai Melhor.

Em São Paulo: Quando os negros chegam das lavouras de café à capital após a instauração da Lei Áurea de 1888, trazem consigo toda a cultura musical do interior. A cidade não os aceita e eles partem para a periferia em um movimento urbanístico de marginalização. Nas fronteiras da cidade, eles constroem centros de resistência e terreiros onde podem desenvolver sua cultura.

A história do samba em São Paulo é feita de alguns grandes nomes. Um deles e talvez o primeiro é Dionísio Barbosa, negro da primeira geração de escravos livres que veio para a capital em busca de oportunidades como liberto. Aqui, foi para a Barra Funda, reduto negro da cidade.
Nascido em 1891, Dionísio uniu a expressão do interior paulista com a influência do samba do Rio de Janeiro, onde conheceu a Festa da Penha e todas as tradições carnavalescas cariocas. Em 1914, reuniu sua família e foi para as ruas festejar, cantar e tocar o samba que iniciou a tradição dos cordões. Já havia na cidade eventos carnavalescos, mas eram manifestações da classe rica e branca. O Cordão Barra Funda era o primeiro movimento cultural organizado dos negros, o primeiro cordão da cidade, algo pequeno, composto por 15 a 20 pessoas. No Cordão da Barra Funda, os homens ensaiavam e desfilavam pelas ruas vestidos com camisas verdes e calças brancas. Este movimento foi o embrião do hoje a.C.S.E.S.M. CAMISA VERDE E BRANCO, ressurgida como escola de samba em 4 de setembro de 1953. (fonte Jornal USP ano XXII no.790)

No início da década de 1950 o carnaval de São Paulo era pequeno, a escola que mais se destacava era a SRBE Lavapés considerada a primeira Escola de Samba Paulistana, que ganhou muitos títulos na época, mas essa invencibilidade de 15 anos foi quebrada no ano do IV Centenário de cidade. No ano de 1954, a Brasil de Santos foi convidada pelas escolas de São Paulo, graças a uma rixa que existia, de quem possuía o maior carnaval do estado, em termos de escola, e o que foi comprovado com a chegada da Brasil de Santos, fato que se repetiu em 1955 num empate com a Garotos do Itaim, em 1956 dois fatos que marcaram o Samba Paulista, o nascimento da Unidos do Peruche. E nesse mesmo ano as vencedoras num empate ferrenho, com a Garotos repetindo o caneco junto com a Nenê de Vila Matilde, nesse mesmo ano a "Águia Guerreira", (apelido carinhoso que os integrantes da Nenê chamam a agremiação), apresenta o primeiro samba-enredo, e um enredo construído na história de São Paulo. No ano seguinte foi a vez da Unidos do Peruche inovar, traz o primeiro casal de
Mestre Sala e Porta Bandeira no Carnaval Paulistano.

Comentários:

Com a entrada sutil dos Negros no carnaval da época, introduzindo seus costumes e cultura, a historia do carnaval brasileiro foi se transformando, a figura do Zé Pereira, foi sendo substituída pelos ritimistas, as marchinhas, pelos Sambas Enredos, os desfiles dos Corsos, foram substituídos pelos Carros Alegóricos, as mascaras pelas fantasias, e os Cordões, pelas Escolas de Samba.
Durante o estado novo, o governo Getulio Vargas, resolve intervir nas Escolas de Samba, exigindo que as mesmas trouxessem em seus enredos fatos ligados a historia nacional, tentado com isso valorizar as figuras de Duque de Caxias, entre outros. Pois naquela época as escolas satirizavam e faziam criticas a alguns personagens apresentando-os em suas alegorias com o nariz grande e desfigurados, virando motivos de chacotas.
Com essa intervenção, as escolas passaram criar enredos históricos, mas também começaram a valorizar os heróis Negros, incluindo-os em sua historia, a partir daí, personagens como Zumbi dos Palmares, Chico Rei, Chica da Silva, entre outros.

Por tudo isso, entendemos que Carnaval e folia, algo sem compromisso, que originariamente termina em orgia, já o Samba e cultura, tem historia pra contar, retrata um sentimento, uma cultura, vide os desfiles das Escolas de Samba.
Felizes e inteligentes, foram aqueles fundadores da ``Deixa Falar`` que a denominaram ``Escola de Samba`` numa ironia a ``Escola Normal`` onde os negros eram proibidos de estudar, diziam os mesmos ``se la eles ensinam a ler e escrever``, e não podemos entrar, ``aqui nos vamos ensinar a sambar`` e com isso as Escolas de Samba, com toda sua galhardia, hoje ensinam a sambar e também dão uma aula de historia, e cultura, com seu teatro ambulante, pois o que aprendemos com o desenvolvimento de seus enredos em uma hora de desfile, não conseguimos aprender em uma escola normal, em um ano letivo.

Sinto-me muito orgulhoso de fazer parte desta historia e reconhecer que aqueles que fundaram a primeira Escola de Samba, tinham toda a certeza do valor e denominação de sua obra, se foram mas nos deixaram um legado, na qual temos que preservar, meu muito obrigado a estes Mestres que me permitiram fazer parte desta escola, sem exigir matricula, pois apenas tinha que aprender a sambar, hoje tomo um banho de suas aulas nos enredos que apresentam na avenida, independente do grupo ou local de desfile. Em Janeiro de 2013, estarei completando 50 anos de Samba, mas continuo sendo um feliz e eterno aprendiz.

Valeu Zumbi !!!

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